Eu sou a média das pessoas que eu convivo desde a minha infância.
Na minha infância eu convivi com muitos grupos de amigos. Eu não tinha um único grupo de amigos. Eu participava de vários grupos de amigos. Eu tive os amigos do xadrez, os amigos do rock, os amigos da academia, os amigos do prédio, os amigos punheteiros e assim por diante.
Cada um desses grupos de amigos me influenciou de uma maneira diferente.
Alguns desses amigos eu vejo até hoje. Através do WhatsApp nós compartilhamos saudosismo, piada política, mulher pelada e fotos de família.
Um desses amigos de infância, o Rodrigo Botero, eu vejo uma vez por mês. O nosso combinado é almoçar toda primeira quarta-feira do mês para falar sobre o passado, presente e futuro. Quase sempre cumprimos o trato. E olha que o cara mora em São Bernardo do Campo e eu moro em Alphaville.
Eu conheci o Rodrigo Botero quando eu tinha 6 anos de idade. Eu conheço o cara faz 44 anos.
Por muitos anos o Botero foi o meu companheiro de corrida. Nós corremos juntos centenas de milhares de quilômetros dos 13 aos 21 anos de idade. Todo dia as 18:00h no Parque da Aclimação em São Paulo. O Botero e eu corriamos uns 10 KMs por dia, tipo 10 voltas ao redor no lago da Aclimação. O nosso recorde é 12 KMs em menos de uma hora.
Hoje a barriga do Botero tá parecida com a barriga do Homer Simpson. Ele só corre atrás de batatas Pingles ou X-salada com cerveja.
Eu continuo correndo. O meu hábito de correr todo dia começou com o Botero 35 anos atrás.
Uma coisa que eu fiz muito quando moleque era andar pela cidade. Eu não tinha carro nem dinheiro para pegar ônibus. O negócio era andar a pé.
Teve uma vez que o Botero e eu voltamos a pé do estádio do Morumbi até o Parque da Aclimação. Foram umas oito horas andando pela madrugada. Eu já voltei a pé do estádio do Corinthians, do estádio do Palmeiras, do Aeroporto, do Largo 13 de maio, de Santana, do Jabaquara, da Praça do Por do Sol, de Interlagos e Taboão da Serra.
Nessas caminhadas de madrugada pelas ruas de São Paulo eu nunca fui assaltado mas tomei ovada na cabeça, mijo na roupa e ketchup nas costas jogados pelos playboys que passavam de carro zoando com quem andava a pé.
Um grande amigo de infância que eu perdi da noite para o dia foi um cara chamado Daniel. O Daniel foi o meu amigo do rock. Com ele eu assisti METALLICA 10x, IRON MAIDEN 5x, HELLOWEEN, RAMONES, MOTORHEAD, SEPULTURA, RATOS DE PORÃO, THE EXPLOITED, TOY DOLLS e todo tipo de show de banda de rock pesado e punk rock que passou por São Paulo nos anos 80 e 90.
Certo dia, do nada, as 7:00h da manhã, eu acordo com o meu celular gritando, “Ricardo, tudo bem? Aqui é o Daniel. Eu estou com um problema. Você pode me emprestar 10 mil reais? Eu devolvo para você em cinco dias.”, “Beleza, passa o número da sua conta que eu transfiro agora”. Em 10 minutos eu transferi o dinheiro para o Daniel sem perguntar porque ele estava precisando do dinheiro.
Ele nunca me pagou de volta. Simplesmente sumiu. Eu perdi o amigo de 30 anos e o dinheiro.
Certa vez, quando o Daniel ainda falava comigo, eu sugeri que ele pagasse 1 real por mês durante 10 mil meses. Nem isso rolou.
A primeira vez que eu ouvi THE NUMBER OF THE BEAST foi na casa do Guilherme Tiba. O pai do Tiba era fiscal. Não sei bem do quê. Só sei que na casa do Tiba tinha sempre os mais novos e incríveis aparelhos de som, muito produto importado e os recém lançados discos de rock da Inglaterra e EUA.
Foi na casa do Tiba que eu fiquei com vontade de comprar a minha primeira guitarra quando eu vi a bateria que o Tiba tinha ganho do pai. Era uma puta bateria. Parecia a bateria do baterista do Van Halen. Cheia dos pratos Zildjiian, dois bumbos etc.
Noventa dias depois eu apareci na casa do Tiba com uma guitarra xingue-lingue. Como eu não tinha dinheiro para comprar pedais para guitarra, eu colocava o amplificador xingue-língue no volume máximo para conseguir algum tipo de distorção para tocar RUN TO THE HILLS ou SEEK AND DESTROY.
Um ano depois eu detonava na guitarra. 5 anos depois o Tiba ainda era um péssimo baterista. Ele nunca aprendeu a tocar aquela porra.
O Tiba é um dos amigos de infância que entrou e saiu da minha banda de rock. Teve também o Jaime, Nelson, Paulo, Luciano, Terada e Nastari entre outros. Tocamos em alguns festivais, bares, baladas e festas. A última vez que a banda tocou junto foi em uma festa que rolou dentro da Faculdade de Direito da USP no Largo São Francisco. O Jaime e o Nelson estavam com vergonha de tocar na frente de tanta gente. Para perder o medo, eles decidiram tomar um porre no bar na frente da faculdade. Funcionou. Eles perderam o medo e a memória. Eles esqueceram todas as músicas. Não saiu nada. Eu briguei com eles no palco. Chutei os caras para fora da banda e terminei o show sozinho. A banda acabou naquele dia.
Eu cresci em um condomínio de dois prédios de 10 andares no bairro da Aclimação. Praticamente todos os apartamentos tinham uma criança. A turma toda tinha umas 30 crianças entre meninos e meninas. Era muito legal. Essa turma literalmente botou fogo no prédio. Quando chegava a hora do futebol tinha sempre três times de sete para jogar. O esconde-esconde levava mais de 50 minutos para acabar. Caça ao Tesouro umas três horas. Na hora da corrida de bicicleta, quatro ou cinco caiam na primeira curva porque não havia espaço para 25 bikes passarem ao mesmo tempo. Os campeonatos de futebol de botão duravam um mês. Quando todos desciam com os seus autoramas para montar uma super pista para brincar juntos, a eletricidade simplesmente não chegava a certas curvas tamanho era a extensão do circuito onde cabiam 8 carros simultâneos.
Aos 15 anos de idade eu era um mini pitbull. Todo dia eu levantava ferro em uma academia chamada Aqualice que ficava na Rua Paulo Orozimbo atrás do Parque da Aclimação. Eu acho que eu e os meus amigos bancavam aquela academia. Só a gente ia lá. Eu saía de casa a pé, passava na casa do Futika, a gente passava na casa do Marcus, que passava na casa do Botero, que passava na casa do Sérgio, que encontrava o Fernando no caminho. Todos tinham uma toalhinha colorida enrolada embaixo do braço para secar os equipamentos da academia depois de utilizar. Coitado daquele que não levasse toalhinha. O Luís, nosso professor, dava umas porradas no moleque. O treino da academia terminava as 22:00h com todo mundo deitado no chão fazendo uns 70 tipos diferentes de abdominais durante uns 40 minutos sem parar. Eu faço academia até hoje mas não termino com série de 1 mil abdominais nem fudendo.
Depois dos 40 o homem perde 1% de músculo do seu corpo por ano. Se você não fizer exercícios para fortalecer o seu corpo, você vai chegar aos 70 na pele e osso. Eu não vou terminar pele e osso. Eu terei músculos no meu corpo quando eu tiver 156 anos de idade. Se não fosse pelos anos do Aqualice, eu não pensaria assim.
Eu tive os amigos nerds do xadrez. Eu amo xadrez. Eu jogo desde 7 anos de idade. O meu pai e o meu avô me ensinaram. Toda noite eu jogava xadrez por telefone com os meus amigos nerds. Sim, é possível jogar xadrez por telefone. O xadrez tem uma linguagem própria. É possível mexer as peças do Xadrez passando essa linguagem por telefone.
Nos anos 80 a ligação telefônica era cara no Brasil. Você tinha que esperar o relógio bater 20:00h para fazer uma ligação mais barata. Depois desse horário a ligação era metade do preço ou grátis. Tipo rodízio de carros em São Paulo.
As 20:01 eu ligava para o Joel, Wilson, Márcio ou Abel, e a gente jogava Xadrez até as onze da noite por telefone. Eu só parava o jogo quando a minha mãe pedia para eu desligar o telefone porque ela queria falar com a minha avó.
O xadrez é o esporte que ensina você a enxergar mais longe. O xadrez ensina você a ver o que os outros não veem. A sacrificar os seus próprios recursos para conseguir atingir uma meta maior. No xadrez você aprende a vencer quando você tem menos recursos que o adversário. No xadrez você aprende a escutar o silêncio.
Eu joguei xadrez pelo meu Colégio. E também fiz parte da equipe de futebol de salão e vôlei.
Em cada um desses esportes eu tinha uma turma de amigos diferente. A galera do futebol era a mais popular entre os homens. A galera do vôlei era a mais popular entre as mulheres. A galera do xadrez me incluía entre os nerds.
Fazer parte de equipes de esportes que competiam contra outros colégios me ensinou a perder, ficar na reserva e treinar muito para superar os meus próprios colegas e conseguir uma vaga entre os titulares.
Por falar em esportes, eu ainda tinha os amigos do Corinthians!!!!! Sérgio, Daniel, Rodrigo e Fabio com quem eu ia nos estádios do Morumbi ou Pacaembu para assistir o Corinthians jogar. Eu assisti o Corinthians jogar ao vivo mais de 400 vezes nos 15 anos que eu frequentei os estádios. CORINTHIANS É VIDA!
Ao longo de todo esse tempo eu sempre tive minhas amigas mulheres. Meninas que eu não nunca beijei ou tive segundas intenções. Amigas mesmo. Amigas para conversar, ir no cinema, sair para jantar, ou dançar até de madrugada. Carla Zucci, Renata Torres, Roberta Torres e Rita de Cassia são algumas dessas amigas preciosas que me ensinaram muita coisa sobre mulheres e relacionamentos.
O meu networking sempre foi imenso porque eu nunca quis pertencer a UM ÚNICO grupo de pessoas. Eu sempre quis ser um cara capaz de circular por todo tipo de grupo de pessoas sem pertencer necessariamente a nenhum deles.
MAS… uma coisa unia toda essa gente. Todos eram punheteiros. De mão cheia.
Toda essa turma descobriu o sexo no mesmo ano que a Suécia decidiu inventar as revistas de mulher pelada, a Xuxa decidiu entrar para o cinema nacional, a Garganta decidiu ser Profunda, e a Emanuele decidiu ser atriz de filme pornô.
Uma das cenas mais cômicas da vida dessa turma foi ser pega com a mão na massa pela mãe do Marcus em uma sessão pipoca de punheta coletiva na casa do dito cujo. Imagina a cena. Oito meninos deitados um do lado do outro no sofá de um quarto apertado assistindo filme pornô com a calça abaixada e a mão na massa na maior folga quando a porta do quarto se abre do nada e a mãe do Marcus acende a luz e diz, “Que horror!!!” Kkkkk
Naquela época filme pôrno era caro e raro. Quando alguém conseguia uma cópia de um filme, todo mundo assistia juntos com a promessa de não gozar um no outro. Kkkkkk
Eu escolhi terminar essa história falando sobre os punheteiros para dizer uma coisa muito importante para você: você nunca será feliz na sua vida se você tiver problemas para falar sobre sexo. Quem é travado com relação a sexo é travado com relação a todos os outros campos emocionais da vida.
Destrava tudo. Solta a franga. Viva na plenitude.
ALL YOU NEED IS LOVE!
AND FRIENDS IS ALL YOU NEED.
Jordão curti seu post. É uma verdadeira história de vida entre amigos. Me fez lembrar dos meus que a algum tempo não troco ideia com eles. Valeu. 🤘🤘🤘