Job Rotation.
Como começar quando você é um jovem sem experiência, sem contatos e sem uma meta de vida bem definida?
A história de hoje é sobre isso.
Antes de conseguir um trabalho “decente” em uma empresa decente com direito a dinheiro, fama, sucesso, mulheres bonitas, barcos, helicópteros, etc etc etc, eu tive a minha fase Job Rotation, ou no bom português, a fase dos “bicos” provisórios ou improvisados.
O meu grande amigo Gilberto Lopes e a Penélope sabem muito bem do que eu estou falando. Hehehe
Dos 17 aos 20 anos de idade eu fui menos que bedel de cursinho, barman de casa noturna na zona leste, redator publicitário, contato publicitário, pesquisador, vendedor porta-a-porta de cartão de crédito e mais alguma coisa que eu não me lembro agora.
Eu saí do terceiro colegial rumo a nada.
Eu tinha 17 anos.
Eu não queria fazer faculdade de nada.
Eu não queria ser nada que as pessoas queriam que eu fosse.
Naquele tempo eu queria viver apenas de música e botar fogo na sociedade.
Foi quando um amigo de infância chamado Maurício Rosanova – diferente de mim ele queria seguir uma vida normal mas também não tinha entrado na faculdade – falou para mim, “Eu ouvi falar que o cursinho do Anglo tem umas vagas para trabalho de meio período para uns moleques como a gente. Vamos lá? Eles ainda deixam a gente estudar de graça no cursinho quando não estamos trabalhando. Tem mulher bonita pra caramba no cursinho!!! Vamos aí!?” Com esse último argumento o Rosanova me convenceu.
A minha fase Job Rotation começou como Auxiliar do Departamento de Áudio Visual do Cursinho do Anglo na Rua Tamandaré na Aclimação.
O trabalho consistia de armar microfones, projetores de slides, retroprojetores, infográficos gigantescos, trilhas – um combinado de 2 projetores com carrosséis de slides com música de fita cassete + sei lá o quê que criava a impressão de uma apresentação feita com computador 20 anos antes do PowerPoint ser inventado!!! -, dentro das salas de aula para facilitar a didática dos professores.
Quando batia o sinal das aulas, mal dava para andar nos corredores do cursinho abarrotado por centenas de centenas de alunos. No meio desse ambiente a lá Rua 25 de Março, eu passava espremido entre os estudantes carregando projetores e retrojetores usando um eventual azul claro que queimava completamente o meu filme frente aquelas garotas maravilhosas que estudavam no cursinho.
Eventual azul claro. Tipo faxineiro. Eu usei aquele avental por 9 meses todos os dias no meio de centenas de playboys e patricinhas maravilhosas.
Diferente de um amigo que tirava o avental para circular pelos corredores para parecer que era um igual aos alunos, eu vestia aquele aventual azul de faxineiro com muito orgulho.
A equipe do audio visual era liderada por um cara sensacional chamado Canevo. O Canevo foi o meu primeiro chefe. Um cara 100% honesto. Autêntico. Correto. Responsável. Democrático. Humano. E que conhecia tecnicamente tudo que ele pedia para os funcionários fazerem. Todos os funcionários do audio visual eram jovens pobres que não tinham dinheiro para bancar o cursinho por isso trabalhavam por lá. O Anglo dava emprego para quem queria estudar. Eu achava a idéia sensacional. Era um verdadeiro ganha ganha.
As sextas, sábados e domingos, durante uns 18 meses, eu trabalhei como barman na Contra-Mão. Quem lembra da Contra-Mão? A Contra-Mão era uma danceteria gigantesca que ficava perto da Praça Silvio Romero na Zona Leste.
Quem me conhece sabe que eu não bebo nada. Eu nunca bebi álcool na minha vida. Nunca.
Mas isso não me impediu de ser o MELHOR barman da Contra-Mão.
Enquanto os meus colegas barmans vendiam uma batida de limão e tomavam duas, eu era generoso nos drinks que eu preparava para a galera. Eu aprendi a fazer todo tipo de bebida e conheci todo tipo de gente naquele lugar. Todo domingo eu ia de volta para casa com uma daquelas fitas cassete preta e laranja da BASF editada com o melhor da “Night” pelos DJs da Contra-Mão que ficaram todos meus amigos. O trabalho era das 21:00 as 7:00 da manhã.
Um dos frequentadores mais assíduos do meu bar na Contra-Mão era dono de uma agência de pesquisa de mercado. Entre uma caipiroska e uma bloody Mary, ele me convidou para trabalhar como pesquisador de mercado durante o dia.
As segundas, terças e quartas eu saia de Kombi da agência com a minha prancheta na mão e uma mochila nas costas com centenas de pesquisas que eu tinha que preencher em algumas horas com a opinião de pessoas aleatórias que eu encontrava na rua. Eu passava o dia no Parque do Ibirapuera, Praça da Sé e Praça Silvio Romero implorando para a galera responder as minhas perguntas.
Uma das pesquisas mais legais que eu fiz foi para a KALUNGA. A KALUNGA tinha apenas uma loja na Celso Garcia e os donos estavam pensando em transformar a marca em uma rede de lojas com presença nos shoppings dos mauricinhos. A minha meta era conversar com centenas de mauricinhos para verificar a aceitação do nome KALUNGA pelos playboys. O resultado da pesquisa apontou a necessidade de mudar o nome antes de abrir uma filial no Shopping Ibirapuera. Felizmente os donos da Kalunga não compraram a ideia. A KALUNGA continua sendo a genuína KALUNGA.
Será que abordar centenas de pessoas na rua para pedir 5 minutos da sua atenção para responder as minhas pesquisas de mercado me ensinou alguma coisa sobre vendas???? O que vocês acham?
Eu só sei que eu peguei o gosto pela coisa e me transformei em um vendedor porta-a-porta de cartões de crédito. Todos os dias eu descia em uma estação de metro aleatória e saia tocando a campainha da casa de todo mundo para vender cartões de crédito.
Como eu não tinha recebido treinamento nenhum para vender cartões de crédito, eu não sabia como abordar as pessoas.
Como eu não sabia como abordar as pessoas, eu mesmo inventava as minhas próprias abordagens sem scripts pré-formatados e robóticos.
Todas as minhas abordagens eram focadas em elogiar as pessoas e fazer amizade. Vender era consequência do relacionamento que eu criava.
Como eu demonstrava que queria me relacionar com as pessoas, as pessoas compravam de mim.
Para me manter motivado, eu apostava comigo mesmo que tipo de pessoa ia abrir a porta. Homem, mulher, criança, idoso? A expectativa do desconhecido era super motivadora para mim.
Eu adorava ir de porta-a-porta na casa das pessoas.
Eu também fui redator publicitário da Revista do Síndico. Eu mesmo fazia os anúncios para os anunciantes que compravam espaços na revista. Essa experiência também foi sensacional. Eu tive a oportunidade de vender o anúncio, falar com o anunciante, entender o que ele queria vender, e ainda escrever o anúncio para os caras.
Eu sou o que eu sou porque eu NUNCA fiquei esperando pelo emprego perfeito, pela oportunidade perfeita, pelo trabalho dos meus sonhos, pela mulher dos meus sonhos, pelo dinheiro dos meus sonhos, pela posição dos meus sonhos, blá blá blá.
Eu sempre fui muito grato por tudo que sempre apareceu na minha frente. Eu sempre agarrei todas as oportunidades como se fossem as melhores. Eu sempre fiz amizade com todo mundo que passou pela minha vida. Eu sempre fui fiel ao cliente, ao chefe, a meta.
O que é preciso fazer? Passa para cá que eu faço.
Uma coisa leva a outra, e um dia você estará fazendo o que você sempre sonhou.
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Eu vou escrever 50 histórias sobre a minha vida até o dia do meu aniversário de 50 anos no próximo dia 29 de dezembro. Se você perder alguma, confere no http://blogdojordao.com
CONTRA-MÃO UAUUUUUU,, eu frequentei aquela Porra muitos anos , pode ser que até conheça de lá, era bom demais, tanto que até hoje ninguém fez igual