Quem me conhece sabe o que eu penso das faculdades. Não servem para porra nenhuma. E não servem mesmo. A não ser para pegar mulher, fazer amigos e jogar truco.
Eu cai na ESPM por acaso. Eu não pensava em fazer faculdade de propaganda e marketing nem a pau.
Propaganda para mim era sinônimo de coisa ruim. Uma ferramenta do mal usada pelos piores caras do mundo para acabar com a vida dos outros. Tipo Hitler, cigarro, bebida e outras porcarias do gênero.
Propaganda faz você comprar o que não precisa para fazer média com quem você não gosta.
Eu não queria isso para mim. E muito menos para os outros.
Eu odiava propaganda e marketing.
O Marcelo Alvarenga não.
O Marcelo Alvarenga é um amigo de infância.
O pai do Alvarenga era empreendedor. Ele tinha uma espécie de pet shop em Diadema onde levava o filho para trabalhar nos finais de semana para ajudá-lo a carregar toneladas de sacos de comida para cachorro para dentro dos carros dos clientes. Os sábados de trabalho duro dentro da loja do pai levaram o Alvarenga a entender a importância da propaganda.
Quando chegou o momento de escolher uma faculdade, ele foi o único entre todos os nossos amigos a se aventurar no mundo da propaganda e marketing.
Eu queria fazer faculdade de ANARQUIA. Como não existia faculdade de anarquia, eu não queria fazer nada. Naquela época eu estava instalando microfones nas salas dos professores do cursinho no Anglo na Tamandaré.
A ESPM – Escola Superior de Propaganda e Marketing – era o sonho de consumo do Marcelo Alvarenga.
A ESPM era realmente uma faculdade diferente de tudo que existia naquela época. O vestibular era muito difícil. Tipo 300 candidatos por vaga. Apenas 75 vagas.
A “Escola” – como era conhecida – ficava na Rua Rui Barbosa no Bairro do Bexiga em São Paulo bem ao lado do tradicional Teatro Zácaro. As instalações da ESPM ocupavam uma antiga fábrica. Os custos da faculdade eram bancados pelas agências de propaganda da época. O objetivo da escola era formar mão de obra criativa qualificada para o próprio mercado publicitário.
No dia que a ESPM abriu as inscrições para o vestibular, o Alvarenga me ligou, “Meu velho, vamos fazer ESPM?”, eu disse “Eu não! Vai você. Estudar no Bexiga? Tá louco. Eu to tranquilo aqui”, ele insistiu, “Vamos ai caraio!!!! Eu estou indo sozinho. A inscrição custa 10 reais. Se quiser eu pago para você. Vamos ai para fazer companhia para mim.”, “Tá bom, eu vou”, finalmente respondi.
No dia da prova da ESPM eu quase perdi o horário. Eu não levantei da cama. Se o Alvarenga não tivesse vindo até a minha casa e insistido para eu ir, eu não teria mergulhado de cabeça no mundo do marketing e das vendas profissionais. Eu não teria feito as mil coisas que eu viria a fazer com marketing e vendas. Se não fosse pela insistência do Alvarenga, eu teria seguido um caminho completamente diferente na minha vida.
Por essa e muito mais, eu sou eternamente grato ao Marcelo Alvarenga.
Feliz daquele que tem amigos.
Eu fui para o vestibular da ESPM sem estudar NADA. Eu não sabia como seria a prova e nem quanto tempo duraria.
O meu desleixo era total. Eu estava ali apenas para fazer companhia para o Alvarenga. Eu não ligava para o vestibular.
E assim teria sido se não fosse pelo fato da ESPM ter conseguido reunir naquele dia as mulheres mais lindas do mundo.
Quando eu olhei a mulherada que fazia fila para entrar no prédio da ESPM para fazer o vestibular…, cara… eu nunca tinha visto tanta mulher bonita reunidas juntas em um só lugar na minha vida. Eu olhei para o Alvarenga e ele olhou para mim e falamos ao mesmo tempo, “CARAIO!!!!!! What fuck????”
Te juro… naquele instante eu pensei comigo mesmo, “Eu VOU ENTRAR NESSA FACULDADE NEM QUE EU PRECISE FUNDIR O MEU CERÉBRO para acertar TODAS AS QUESTÕES da prova”.
De cada 100 candidatos, 85 eram mulheres maravilhosas, 5 eram homens, 10 eram gays.
Na classe que eu fiz a prova só tinha deusa. O meu poder de concentração que já era um lixo ficou comprometido com tanto perfume ao meu redor.
Ainda assim, eu acertei tudo. Das 75 vagas, eu entrei em 23.
A prova da ESPM era completamente diferente dos vestibulares tradicionais. Eles queriam saber o quanto você conhecia do mundo atual, antigo e futuro. Política, religião, sociologia, história, tecnologias, ciências e artes compunham as questões muito loucas que caiam no vestibular da ESPM.
Além das questões de múltipla escolha, a redação tinha um peso pesado.
Eu sempre fui excelente em redação.
Eu destrui na redação.
Passei.
Nos primeiros dois anos de ESPM eu ganhei uma grana preta fazendo roupas com a marca da faculdade. Eu fui o primeiro a fazer isso. Bonés, camisetas, moletons, hoodies e adesivos. Eu tirava os pedidos por toda a escola, pegava o dinheiro de todo mundo, levava para a confecção, ficava com a minha parte, e entrega os produtos depois de semanas de produção.
Eu parei de odiar a propaganda quando eu me toquei que o marketing manda no capitalismo. O capitalismo manda no mundo. Para mudar o mundo eu teria que mudar o capitalismo, para mudar o capitalismo eu teria que mandar no marketing.
Pronto! É isso que eu vou fazer. Eu vou mudar a porra do marketing para deixar de ser fútil e consumista para ser algo útil e produtivo.
Eu estou nessa jornada até hoje.
Vale a pena fazer faculdade?
Eu não sei.
Eu acho que eu nunca fiz uma. Eu passei os quatro anos da ESPM conversando com as pessoas, lendo mil livros, vendendo moletons, pegando a mulherada, organizando festas, e trabalhando pra caraio.
No dia da apresentação do meu Trabalho de Conclusão de Curso, centenas de pessoas se apertaram na minha classe para assistir a minha apresentação. Eu era conhecido na ESPM como o cara que mais manjava de tecnologia misturada com marketing e vendas. Em 1991, ano da minha formatura, o Powerpoint nem existia ainda. Eu fiz a apresentação do meu trabalho usando o Harvard Graphics (Bisavô do Powerpoint) com IBM Storyboard com um notebook da Compaq ligado em um projetor de cinema portátil com caixas de som multimídia da Creative Labs.
A bancada formada pelos professores da ESPM ficou impressionada com a apresentação do meu trabalho. Todos ficaram. Eu tive que explicar em detalhes tudo sobre as tecnologias que eu utilizei naquele dia. Nós tiramos 10 no trabalho. Nunca na história da ESPM alguém tinha visto uma apresentação de trabalho tão high tech.
Eu realmente fui o primeiro estudante da história da ESPM a apresentar um trabalho de faculdade usando Powerpoint, projetor e som.
O resto é história.
…..
Eu vou escrever 50 histórias sobre a minha vida até o dia do meu aniversário de 50 anos no próximo dia 29 de dezembro. Se você perder alguma, confere no http://blogdojordao.com/
Jordão, muito massa aprender com você em cada história que compartilha.