Movimento Evil.

Blogueiros
Ontem a noite eu tive o imenso prazer de me reunir com uma galera do mal: os Blogueiros do Empreendedorismo Brasileiro. São eles: Sergio e Faustini do SuperEmpreendedores, Bob e Thomaz da ResultsON, Lucas do Saia do Lugar e Empreendemia, Rafel do AtitudeBR, Pedro Mello do Blog do Empreendedor da Exame Pequenas Empresas, Leo Kuba da Leo Kuba Empreendedorismo Ilimitado, Débora do Blog dos Empreendedores da Caixa Econômica Federal, o Daniel – empreendedor Endeavor – da MinhaVida, e Ludmilla e o Leandro da Endeavor, responsáveis pela organização da Semana do Empreendedorismo no Brasil e pela promoção da cultura empreendedora no Brasil respectivamente. 

O encontro foi uma iniciativa da Endeavor. O objetivo era reunir blogueiros que estão falando sobre empreendedorismo na web brasileira e discutir juntos uma maneira de acelerar, promover, consolidar, martelar a cultura empreendedora na internet e além. 

O encontro aconteceu na Casa da Cerveja, uma espécie de boutique da cerveja em São Paulo A Casa da Cerveja distribui cervejas importadas, exclusivas, algumas feitas a mão por monges que vivem em mosteiros do outro lado do mundo. Um negócio empreendedor, distribuindo produtos empreendedores de outros empreendedores. 

O encontro começou com uma presentation do Daniel, empreendedor Endeavor, criador do web site MinhaVida. 

A história do Daniel é show de bola. Ele perdeu dinheiro investindo na equipe errada, nos equipamentos errados, na idéia errada, no formato errado, tudo errado; levou alguns anos até perceber o que estava fazendo de errado e começar a acertar. 

Como toda história empreendedora, a história do Daniel é feita de brilho nos olhos, paixão, determinação, erros, vitórias, e uma contínua vontade de fazer a diferença não importa o tamanho do obstáculo. 

A MinhaVida começou no escritório do pai do Danel, e por dois anos não trouxe nenhuma receita para ele, e nem para os outros sócios envolvidos. 

“Fizemos muitas coisas erradas, tivemos que refazer a plataforma 3x, começamos com pessoas muito juniores”, diz Daniel sobre o começo do MinhaVida. 

Outras frases do Daniel:

“Eu nunca tinha sentado na mesa com uma pessoa que quer apenas ajudar”, sobre o trabalho da Endeavor

Daniel ficou realmente surpreso quando conheceu a Endeavor, e passou a se reunir com pessoas que não estavam pensando em bater a sua carteira, ou trabalhar solamente por dinheiro. 

É claro que dinheiro é importante, mas não é tudo. Se fosse tudo, as pessoas mais ricas do mundo seriam as pessoas mais felizes do mundo, e isso não é verdade. 

Receita e lucro fazem parte do negócio, mas não é tudo. 

Além das metas tradicionais, a MinhaVida mede outras coisas.

“Nós temos várias metas relacionadas a qualidade de vidas dos clientes. A meta de 2010 é ajudar os clientes a reduzir 35 toneladas, aumentar a expectativa de vida das pessoas em 1 ano e meio, entre outras.”, Daniel, sobre as metas da empresa. 

Manter os funcionários também é um desafio, principalmente os mais jovens e talentosos. 

“A melhor maneira de segurar a Geração Y é deixá-los empreender” Daniel da MinhaVida.com.br

O Daniel tem hoje 50 funcionários, tudo molecada, famintos por mudar o mundo, fazer a diferença e ter idéias. Na medida do possível, ele acredita em deixar a turma se virar, e decidir como as coisas devem ser feitas. 

O modelo funciona porque o Daniel toca o MinhaVida baseado em Meritocracia a Métricas. Tudo é medido. A partir daí as pessoas sabem onde tem que chegar, qual é o papel de cada um, e tem autonomia para fazer o que imaginam que tem que ser feito para chegar lá. 

“A Liberdade só é possível se tiver Métricas”, sobre autonomia para funcionários

“50% dos negócios vem da receita da propaganda e 50% vem da venda das assinaturas” Daniel da MinhaVida.com.br

O MinhaVida é um web site sobre saúde para pessoas que precisam emagrecer. A partir de um assinatura mensal, o usuário tem acesso a nutricionistas, conteúdo, software que controle o peso e sugere pratos e muito mais. 

“O brasileiro pensa que se existe um líder em um mercado não vale a pena empreender, e isso não tem nada a ver” Daniel, sobre empreender quando se tem concorrentes. 

Finalizada a presentation do Daniel – depois da nona rodada de cervejas européias – começamos a falar sobre o que todos nós poderíamos fazer juntos para espalhar a cultura do empreendedorismo pela web e além. 

Desafios:

1. A molecada quer trabalhar em grandes empresas (pesquisa recente aponta Petrobrás, Vale, Itaú e outros gigantes como locais preferidos da para trabalhar pela Geração Y, e não a garagem do pai para empreender). 

2. A Endeavor tem um projeto bacana para estimular o empreendedorismo nas faculdades. Eles precisam de braços, espaços e muito mais para promover o projeto. 

3. Todos os anos centenas de empreendedores concorrem pela oportunidade de se tornar um Empreendedor Endeavor. Poucos conseguem. Quem fica de fora tem excelentes histórias para contar, e precisa de ajuda para tocar seus negócios. Como ajudá-los?

4. A Endeavor tem acesso a centenas de profissionais de diferentes campos de atuação. Dezenas deles estão na videoteca do site da Endeavor. O que temos na mão e como potencializar isso?

Enfim, existem algumas excelentes oportunidades de todos trabalharmos juntos para espalhar a mensagem empreendedora pelos quatro cantos do Brasil. 

Ontem a noite nasceu o MOVIMENTO EVIL, um movimento formado por pessoas apaixonadas por empreendedorismo, e dispostas a fazer de tudo para colocar minhoca na cabeça das pessoas para fazê-las QUEBRAR TUDO!

Para fechar, uma pérola do Bob da ResultsON: 

“O Google criou a bolsa família da internet, o blogueiro ganha 200 reais no final do ano, e fica contente com os caras”, @BobWollheim


15 comentários em “Movimento Evil.

  1. Uma idéia tão bacana, com um propósito nobre, com este nome ridículo, e ainda por cima em inglês. Quanta falta de criatividade hein. E se o movimento é brasuca, para empreendedores brasileiros, porque usar um nome DO MAU?

  2. Luciana,
    O movimento não tem esse nome. Quem inventou esse nome fui eu. Durante a conversa rolou um bate papo sobre capitalismo google, microsoft, ambev etc; e a coisa do EVIL virou uma brincadeira que rolou por lá.
    Vamos bolar um nome brazuca que inspire as pessoas. Alguma sugestão?
    ARREBENTA!
    Ricardo

  3. Não sei os detalhes exatos para a ideal formação do nome para o projeto, mas sugiro algo tipo:
    Empreendas Brasil
    EmpreenDOAR
    Empreendar
    Eu faço o meu Brasil
    Ao menos eu começo uma lista de sugestões. Quem continua? Vote em mim!

  4. O encontro foi ótimo e é muito bem estar num movimento com pessoas com o mesmo objetivo de divulgar e estimular o empreendedorismo.
    Parabéns a Endeavor e a todos os amigos e colegas presentes.
    E, é sempre bom reencontrar o Ricardo, que conheço há 10 anos, e ver que ele continua o mesmo: dizendo o que pensa, custe o que custar, recebendo críticas mas também trazendo reflexões.
    Abç,
    Leo Kuba

  5. Muito bacana a iniciativa. Acho que faltou gente aí nessa turminha! Eu também gostaria de me juntar nos próximos encontros =). Tem o Diego Remus da Startupi, o Eric Santos do Manual da Startup entre outros que acredito que agregariam muito. Quanto mais a gente para semear este tipo de iniciativa mais gente consegue ajuda.

  6. Nossa, fantastico essa idéia! Eu acho que poderia ser criado um comitêe para apoiar o refugo da Endeavor, a Endeavor infelizmente acaba ajudando uma parcela muito pequena de empreendedores de modo direto. Os vídeos e material disponível ajuda bastante mas não faz milagre. Empreendedores precisam de acesso a linha de crédito, sugestões de especialista e ajuda individual para deslanchar seu negócio. Acho que é um excelente início para esse projeto.
    Abs,
    Samer

  7. A montanha pariu um rato. Onde está a genialidade deste encontro? Gente óvia, conversando coisas óbvias com conclusões óbvias que ligam o nada a lugar nenhum. Lembram do movimento “CANSEI” (?) pois é… este “movimento Evil” lembrou-me ele…

  8. A históra de vida do Daniel é “muito empolgante”. Fechar então dizendo que:
    “É claro que dinheiro é importante, mas não é tudo. Se fosse tudo, as pessoas mais ricas do mundo seriam as pessoas mais felizes do mundo, e isso não é verdade.”
    Foi “fantástico”. Bom, vamos aos “desafios”:
    1. A molecada quer trabalhar em grandes empresas (pesquisa recente aponta Petrobrás, Vale, Itaú e outros gigantes como locais preferidos da para trabalhar pela Geração Y, e não a garagem do pai para empreender).
    (onde está o desafio? fazer os moleques desistirem de ir para as grandes empresas???)
    2. A Endeavor tem um projeto bacana para estimular o empreendedorismo nas faculdades. Eles precisam de braços, espaços e muito mais para promover o projeto.
    (a ENDEAVOR já faz isto. Ponto)
    3. Todos os anos centenas de empreendedores concorrem pela oportunidade de se tornar um Empreendedor Endeavor. Poucos conseguem. Quem fica de fora tem excelentes histórias para contar, e precisa de ajuda para tocar seus negócios. Como ajudá-los?
    (bom… que teria de responde isto SÃO VOCÊS SÁBIOS GURUS)
    4. A Endeavor tem acesso a centenas de profissionais de diferentes campos de atuação. Dezenas deles estão na videoteca do site da Endeavor. O que temos na mão e como potencializar isso?
    (Fazendo o que a ENDEAVOR já faz: liberando o conteúdo de graça)
    Difícil de acreditar que pessoas “tão conceituadas” produzam um conteúdo tão chinfrim.
    Quem aposta comigo que este movimento não passa de mais uma “bizpremium” do Jordão?

  9. Jordão,
    Acho muito importante e benéfico o que vocês fazem pelos empreendedores de modo geral, você, o Leo, Pedro Mello são caras que me identifico e a forma que compartilham informações quase sempre proveitosas e as vezes discutíves. Agradeço muito a voês por isso!
    Agora, que tem uma galerinha que não faz PORRA nenhuma, mas critica… comentarios como:
    “Nossa, o clima da reunião é de velório…”
    são típicos de que fica de olho em sites de celebridades e futilidade o dia inteiro!
    Vão fazer algo das suas vidas!!!
    Abraço!
    Sergio Cruz

  10. Afonso,
    E eu sou. Eu não bebi nada, por isso não posso falar sobre a qualidade das cervejas feitas a mão, mas, a turma adorou.
    ARREBENTA!!!
    Ricardo

  11. Sugiro lerem O Gene Egoísta, de Richard Dawkins.
    Tem algumas idéias bastante interessantes, como a do MEME, uma estrutura nervosa autônoma que dirige o homem quando o sistema nervoso central colapsa.
    Parece-me que o empreendedorismo tem algo a ver com a genética da realização pessoal.
    Com a vantagem que podemos treinar nosso “gene” para melhorar seu desempenho e produzir nosso sucesso.
    Eis algumas páginas com análise do livro que talvez possam ser úteis.
    Congratulo-me com todos no movimento Empreengenedorismo, digo, Empreenmemedorismo, digo…
    http://pt.wikipedia.org/wiki/O_Gene_Ego%C3%ADsta
    O Gene Egoísta (1976) é o primeiro livro de Richard Dawkins, onde ele apresenta uma teoria que procura explicar a evolução das espécies na perspectiva do gene e não do organismo, ou da espécie[1].
    Segundo ele, o organismo é apenas uma “máquina de sobrevivência” do gene, cujo objetivo é a sua auto-replicação e onde a espécie onde ele existe é a “máquina” mais adequada a essa perpetuação. Analisando o comportamento de algumas espécies animais, Dawkins explica que o altruísmo que se observa em muitas espécies não é contraditório com o egoísmo do gene, mas contribui para a sua sobrevivência.
    Segundo alguns, a teoria lançada por Dawkins pode ser interpretada como uma afirmação do liberalismo (do egoísmo como característica fundamental dos seres vivos, onde o altruísmo, quando existe, é apenas uma forma de perpetuar o indivíduo)[2].
    Neste livro, Dawkins reformula igualmente o conceito de meme, ou seja, o equivalente cultural do gene, a unidade básica da memória ou do conhecimento, que o ser humano transfere conscientemente para os seus descendentes.
    Dawkins afirma no Prefácio da primeira edição que os conceitos elaborados neste livro não são de sua autoria, uma vez que já tinham sido formulados por George C. Williams, J. Maynard Smith, W. D. Hamilton e R. L. Trivers[3]
    http://www.didacticaeditora.pt/arte_de_pensar/leit_gene.html
    O gene egoísta
    Richard Dawkins
    Para uma máquina de sobrevivência, outra máquina de sobrevivência (que não seja o seu próprio filho ou outro parente próximo) é parte do seu meio ambiente, tal como uma rocha, um rio ou um bocado de alimento. É qualquer coisa que se mete no caminho e atrapalha, ou que pode ser explorada. Só difere de uma rocha ou de um rio num único aspecto importante: tem tendência a contra-atacar. Isto porque também ele é uma máquina que guarda os seus genes imortais para o futuro e que também não se deterá diante de nada para os preservar. A selecção natural favorece os genes que controlam as suas máquinas de sobrevivência, de forma a fazerem o melhor uso do seu meio ambiente. Isto inclui fazer o melhor uso de outras máquinas de sobrevivência, tanto da mesma espécie como de espécies diferentes.
    Nalguns casos, as máquinas de sobrevivência parecem influenciar-se muito pouco umas às outras. Por exemplo, as toupeiras e os melros não se comem nem se acasalam entre si, nem competem por espaço para viver. Mesmo assim, não devemos tratá-los como se fossem completamente independentes. Poderão competir por alguma coisa, como, por exemplo, minhocas. Isto não significa que o leitor veja alguma vez uma toupeira e um melro em conflito directo por uma minhoca. Um melro, aliás, talvez nem veja uma toupeira em toda a sua vida. Mas, se você eliminasse a população de toupeiras, o efeito deste seu gesto sobre os melros poderia ser dramático, embora eu não pudesse arriscar uma previsão sobre os pormenores, ou por que vias tortuosamente indirectas esse efeito seria produzido.
    As máquinas de sobrevivência de espécies diferentes influenciam-se mutuamente de várias maneiras. Poderão ser predadores ou presas, parasitas ou hospedeiros, ou competidores por algum recurso escasso. Poderão ser explorados de formas especiais, como, por exemplo, quando as abelhas são usadas pelas flores como transportadoras de pólen.
    As máquinas de sobrevivência da mesma espécie tendem a influenciar-se mais directamente entre si. Isto acontece por muitos motivos. Um deles é que metade da população da própria espécie poderá ser constituída por parceiros sexuais potenciais, ou por pais potencialmente muito trabalhadores e exploráveis pela prole. Outro motivo é que os membros de uma mesma espécie, sendo muito semelhantes entre si e sendo máquinas de preservar genes no mesmo tipo de meio ambiente e com o mesmo tipo de vida, são competidores especialmente directos perante todo e qualquer recurso necessário à vida. Para um melro, uma toupeira poderá ser um competidor, mas não tão importante como o é outro melro. As toupeiras e os melros poderão competir entre si por minhocas, mas os melros competem uns com os outros por minhocas e por tudo mais. Se forem membros do mesmo sexo, poderão também competir por parceiros sexuais. Por razões que iremos ver, habitualmente são os machos que competem entre si pelas fêmeas. Isto significa que um macho poderá beneficiar os seus próprios genes se, de alguma forma, prejudicar outro macho com que esteja a competir.
    A política mais lógica para uma máquina de sobrevivência seria, portanto, aparentemente, o assassínio das máquinas suas rivais, comendo-as depois, de preferência. Mas, embora o assassínio e o canibalismo ocorram, de facto, na natureza, não são tão frequentes como uma interpretação ingénua da teoria do gene egoísta faria prever. Com efeito, Konrad Lorenz, no seu livro Sobre a Agressão, dá ênfase à natureza contida e cavalheiresca da luta entre animais. Para ele, o aspecto notável, a respeito das lutas animais, é serem torneios formais, realizados de acordo com regras, exactamente como no boxe ou na esgrima. Os animais lutam com luvas e lâminas rombas. A ameaça e o bluff substituem as vias de facto, quase sempre fatais. Os vencedores reconhecem os gestos de rendição e não desferem o golpe de misericórdia que a nossa teoria ingénua faria prever.
    Esta interpretação da agressão animal como sendo moderada e formal é discutível. Em particular, é, sem dúvida, errado condenar o pobre e velho Homo sapiens como sendo a única espécie que mata os seus semelhantes, o único herdeiro da marca de Caim e de outras sinas igualmente melodramáticas. O facto de um naturalista dar maior ênfase à violência ou à moderação da agressividade animal depende, em parte, do tipo de animais que está habituado a observar e também dos seus preconceitos evolutivos — Lorenz, por exemplo, é um adepto de “para bem da espécie”. Mesmo que tenha sido exagerada, a concepção das lutas animais “com luvas” parece encerrar ao menos uma parte de verdade. Superficialmente, parecer ser uma forma de altruísmo. A teoria do gene egoísta deve enfrentar corajosamente a tarefa difícil de a explicar. Por que será que os animais não se põem a matar elementos rivais da sua própria espécie em todas as oportunidades possíveis que encontram?
    A resposta genérica a esta pergunta é que há custos e há benefícios para a belicosidade sem reservas, além dos custos óbvios em tempo e energia. Suponha o leitor, por exemplo, que B e C são ambos meus rivais e que eu encontro acidentalmente B. Poderá parecer sensato da minha parte, que sou um indivíduo egoísta, tentar matá-lo. Mas espere um instante. C é tanto meu rival como o é de B. Matando B, eu estou, potencialmente, a beneficiar C, estou a eliminar um dos seus rivais. Talvez seja melhor deixar B viver, pois ele poderá então competir ou lutar com C, beneficiando-me assim indirectamente. A moral deste exemplo hipotético simples é que não há qualquer vantagem óbvia em matar indiscriminadamente os rivais. Num sistema grande e complexo de rivalidades, a eliminação de um rival não traz necessariamente qualquer vantagem: outros rivais poderão beneficiar mais com a sua morte do que o próprio animal que o eliminou. Este é o tipo de lição desagradável que tem sido aprendida pelos agentes controladores de pragas. Tem-se uma praga agrícola importante, descobre-se uma boa maneira de a exterminar e procede-se a isso alegremente; descobre-se então que outra praga beneficiou ainda mais que a agricultura humana dessa exterminação e que ficámos pior do que antes.
    Por outro lado, talvez pareça um bom plano matar, ou pelo menos combater, de uma maneira discriminada, certos rivais particulares. Se B for um leão-marinho detentor de um grande harém cheio de fêmeas e se eu, outro leão-marinho, me puder apoderar do seu harém, matando-o, poderá ser uma boa ideia tentar fazê-Io. Mas há custos e riscos, mesmo na belicosidade selectiva. É vantajoso para B contra-atacar para defender a sua preciosa propriedade. Se eu começar uma luta, tenho a mesma probabilidade que ele de acabar morto. Ou talvez tenha, até, uma probabilidade maior. Ele detém um recurso valioso e é por isso que quero lutar com ele. Mas por que é que ele o tem? Talvez porque o conquistou em combate. Provavelmente, venceu outros desafiantes antes de mim. É, assim, provável que seja um bom lutador. Mesmo que eu vença e conquiste o harém, poderei ficar tão ferido no processo que não me seja possível desfrutar os benefícios. Além disso, a luta consome tempo e energia. Talvez seja melhor conservá-los por enquanto. Se eu me concentrar em alimentar-me e evitar sarilhos durante algum tempo, crescerei, ficarei maior e mais forte. Acabarei por lutar com ele pelo harém, mas terei então mais hipóteses de, eventualmente, ganhar o combate.
    Este solilóquio é apenas uma maneira de explicar por que razão a decisão de lutar, ou não, deveria ser precedida, idealmente, de um cálculo complexo, e inconsciente, do tipo “custo-benefício”. Os benefícios potenciais não se encontram todos do lado da opção de lutar, embora, sem dúvida, alguns o estejam. Da mesma forma, durante a luta, cada decisão táctica relativa à sua exacerbação ou refreamento tem custos e benefícios, que poderiam, em princípio, ser analisados. Há muito tempo que isto vem sendo realizado pelos etólogos de uma maneira algo vaga, o que levou J. Maynard Smith, que, normalmente, não é considerado um etólogo, a exprimir a ideia de maneira clara e vigorosa. Em colaboração com G. R. Price e G. A. Parker, utilizou o ramo da matemática conhecido por “teoria dos jogos”. As suas ideias podem ser expressas por palavras, sem símbolos matemáticos, não obstante o rigor da exposição sofrer algum prejuízo.
    O conceito essencial que Maynard Smith introduz é o de estratégia evolutivamente estável, uma ideia que remonta a W. D. Hamilton e R. H. MacArthur. Uma “estratégia” é uma política de comportamento pré-programada. Um exemplo de uma estratégia é: “Ataque o oponente; se ele fugir, persiga-o; se ele retaliar, fuja.” É importante entender que não estamos a considerar que a estratégia é conscientemente elaborada pelo indivíduo. Lembre-se de que estamos a conceber o animal como uma máquina robot de sobrevivência, com um computador pré-programado a controlar os seus músculos. Escrever a estratégia por extenso, como um conjunto de instruções simples em português, é apenas uma maneira conveniente de pensar sobre ela. Por algum mecanismo não especificado, o animal comporta-se como se seguisse essas instruções.
    Uma estratégia evolutivamente estável, ou EEE, é definida como uma estratégia que, quando adoptada pela maioria dos indivíduos de uma população, não poderá ser superada por uma estratégia alternativa. É uma ideia subtil e importante. Outra forma de exprimir isto é dizer que a melhor estratégia para um indivíduo depende daquilo que a maioria da população a que pertence fizer. Como o resto da população consiste em indivíduos, cada um tentando maximizar o seu próprio sucesso, a única estratégia que persistirá será aquela que, uma vez desenvolvida, não possa ser superada por nenhum indivíduo divergente. Após uma alteração substancial do meio, poderá haver um pequeno período de instabilidade evolutiva, talvez até mesmo uma oscilação na população. Mas, uma vez atingida uma EEE, fixar-se-á: a selecção penalizará os seus desvios.
    A fim de aplicar esta ideia à agressão, considere o leitor um dos casos hipotéticos mais simples de Maynard Smith. Suponha que há apenas dois tipos de estratégias de luta numa população de uma espécie particular, a estratégia do falcão e a do pombo (os nomes referem-se às metáforas humanas e não têm ligação com os hábitos das aves de onde os nomes são tirados: os pombos, de facto, são aves bastante agressivas). Qualquer indivíduo da nossa população hipotética é classificado como falcão ou como pombo. Os falcões lutam sempre o mais dura e agressivamente que podem, retirando-se só quando ficam seriamente feridos. Os pombos limitam-se a ameaçar duma maneira convencional, nunca ferindo o outro. Se um falcão lutar com um pombo, o pombo fugirá rapidamente e, assim, não será ferido. Se um falcão lutar com outro falcão, a luta prosseguirá até um deles ficar seriamente ferido ou morrer. Se um pombo encontrar outro pombo, ninguém se magoará; ameaçar-se-ão mutuamente durante muito tempo, até um deles se cansar ou decidar não importunar mais o outro, retirando-se. Por enquanto, admitimos que não há qualquer maneira pela qual o indivíduo possa saber, antecipadamente, se um determinado rival é um falcão ou um pombo. Ele só descobre isso ao lutar com ele e não tem qualquer recordação que o guie de lutas anteriores com outros indivíduos.
    Richard Dawkins
    Tradução de Ana Paula Oliveira
    Adaptação de Vítor João Oliveira
    Retirado de O Gene Egoísta. (1976) Lisboa: Gradiva, 2.ª ed., 1999, pp. 115-120.
    http://criticanarede.com/html/lds_geneegoista.html
    O Gene Egoísta, de Richard Dawkins
    Trad. de Ana Paula Oliveira e Miguel Abreu
    Prefácio e revisão científica de António Bracinha Vieira
    Gradiva, 1999, 460 págs.
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    ichard Dawkins conta-se entre os autores que conciliam uma visão teórica inovadora e profunda com um surpreendente talento de comunicador. Não há muitos assim. Com “O Gene Egoísta”, provavelmente o seu livro mais conhecido, Dawkins veio renovar o darwinismo, apresentando-o de um ponto de vista que desafia algumas das noções biológicas mais enraízadas no senso comum.
    Quando olhamos para o mundo vivo, parece-nos óbvio, por exemplo, que as suas unidades fundamentais são os organismos. Muitos biólogos pensam da mesma maneira. Entendem a selecção natural como um processo que actua essencialmente ao nível dos organismos, vendo nos genes simples veículos através dos quais estes se reproduzem. Para Dawkins isto é ver as coisas ao contrário.
    Na verdade, nós, organismos individuais, somos máquinas de sobrevivência dos genes, somos “robots” cegamente programados pela selecção natural que devem a sua sobrevivência à capacidade para preservar essas moléculas “egoístas”, especializadas em imortalizar-se através da criação incessante de cópias de si próprias.
    Estranho? O próprio Dawkins admite que ainda não conseguiu habituar-se completamente à ideia, mas a verdade é que a perspectiva de que os genes protagonizam a evolução biológica tem um vasto poder explicativo. “O Gene Egoísta” deixou isso bem claro, tornando-se alvo de uma controvérsia acentuada que continua a decorrer. Há dez anos o livro teve uma segunda edição, substancialmente enriquecida com dois capítulos novos. É essa edição que está agora disponível na colecção Ciência Aberta.
    No primeiro dos novos capítulos, Dawkins investiga a relevância do dilema do prisioneiro para a sua teoria. Este dilema, que deve o seu nome ao exemplo que o celebrizou, pode ser apresentado como um jogo em que dois jogadores, dispondo cada um deles de duas cartas, têm o objectivo de obter dinheiro de uma banca. Essas cartas representam as opções disponíveis: cooperar e trair. Supondo que estamos a jogar com Dawkins, o que poderá acontecer? Se ambos jogarmos “cooperar”, a banca recompensará cada um de nós com 300 dólares. Se, pelo contrário, ambos jogarmos “trair”, a banca aplicará a cada um de nós uma multa de 10 dólares. Uma outra possibilidade é a seguinte: jogamos “cooperar”, mas Dawkins joga “trair”. Se isto acontecer, a banca, impiedosa em relação à nossa ingenuidade, aplicar-nos-á uma multa de 100 dólares ao mesmo tempo que compensará Dawkins com 500 dólares. Na situação inversa, que consiste na última possibilidade, receberemos 500 dólares por termos jogado “trair” quando Dawkins jogou “cooperar”. Dadas estas circunstâncias, qual será a melhor jogada? Sabemos que Dawkins vai jogar “cooperar” ou “trair”. Se ele jogar “cooperar”, para nós será mais vantajoso jogar “trair”, mas, se ele jogar “trair”, também será melhor para nós jogar “trair”. Sendo assim, “trair” parece a jogada racional. O problema é que Dawkins está a pensar o mesmo, e, se ambos jogarmos “trair”, ambos seremos multados.
    Este tipo de jogo é tão “enlouquecedoramente paradoxal” que já foi proposto que se aprovasse uma lei contra ele, mas o dilema do prisioneiro está longe de ser uma simples curiosidade intelectual. A sua relevância para a compreensão das relações humanas tem sido profundamente investigada, havendo mesmo quem defenda que é importante estudá-lo para evitar um novo conflito mundial. Mas, como mostra Dawkins, o seu campo de aplicação é ainda mais vasto, pois existem “muitos animais e plantas selvagens envolvidos em jogos incessantes do dilema do prisioneiro, jogados ao longo do tempo evolutivo”.
    O segundo dos novos capítulos de “O Gene Egoísta” baseia-se em “The Extended Phenotype”, um outro livro de Dawkins. Este capítulo convida-nos uma vez mais a mudar radicalmente de perspectiva. Ao propor o conceito de “fenótipo alargado”, Dawkins rejeita a ideia de que o fenótipo se circunscreve ao organismo, defendendo antes que “os efeitos fenotípicos de um gene têm de ser pensados como sendo todos os efeitos que o gene tem no mundo”, o que inclui efeitos em organismos exteriores àquele no qual o gene reside. O desenvolvimento da teoria do gene egoísta à luz deste conceito produz questões e resultados surpreendentes.
    Esta segunda edição de “O Gene Egoísta”, a par da publicação, no início do ano, de “A Escalada do Monte Improvável”, constitui um acontecimento importante na área da divulgação científica. E, com um pouco de sorte, até ao fim do ano surgirá um terceiro livro de Dawkins, pois está prevista a publicação de “Unweaving the Rainbow”. Diz Dawkins sobre este seu livro: “O meu título vem de Keats, que acreditava que Newton destruíra toda a poesia do arco-íris ao reduzi-lo às cores prismáticas. Keats dificilmente poderia estar mais enganado, e o meu objectivo é levar à conclusão oposta todos os que se sentem tentados por um ponto de vista semelhante.”
    Pedro Galvão

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